segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Clarice.

Clarice
Clara luz
Enigmática
Labiríntica
Solidão explícita
Amor clandestino
Felicidade perdida
Palavra escrita
Palavra não dita
Olhos de águia
Voo 
Olhos da morte
Vida
Sensualidade ácida
Café, cigarros e nada
Da morte renasce
Da vida escapa
Das palavras a verdade
Do silêncio o mistério
Da mulher do mundo
Ucraniana
Brasileira
Mística 
Deusa
Mulher
Menina
Flor
da 
Papoula
Revelação.


(Mariana de Almeida)

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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Futuro do Pretérito.

Te amaria
Te viraria do avesso das coisas
Te amaria dos pés à cabeça
Te reviraria das pedras ao pó
Te torturaria os desejos todos
Te enlouqueceria a razão
Te desgovernaria o coração
Te faria louco, santo, réu confesso
Te condenaria prisioneiro
Te roubaria a vida, a ordem, o caos
Te fuçaria onde não era chamada
Te roubaria os pensamentos tolos
Te daria os meus sonhos todos
Te perseguiria de noite na cama
Te despistaria de dia nas ruas
Te faria meu menino, meu senhor
Te ofertaria luxúrias, verdades
Te amaria, tanto, tanto...
Que talvez seria até pecado
Amar demais assim
Um só homem
Um só coração
Em uma só vida.




domingo, 4 de novembro de 2018

Fogo.

Você era o inferno a vista
Você era o fogo que consumiria
Você era a paz perdida
Você era tudo que poderia
De novo me fazer viva
Eu tão cheia de Mortes
Você tão cheio de Ira
Poderíamos renascer o fogo
E derrotar as cinzas.

Amor de mentira

O nosso amor de mentira
Sabia
Quanta verdade
Nossa pele exalava;
O nosso amor de mentira
Sabia
Quanta verdade
Revelava.
O nosso amor de mentira
Vive.


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Nosso medo.


O nosso medo
Da vida
Era o medo
Dos homens
O nosso medo contido
Era o medo
Daquelas palavras
Que um dia já foram ditas
Mas nunca esquecidas
O nosso medo
Revelava verdades
Inconfessáveis.

(Mariana de Almeida).

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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Aos espectadores.

Dei todo o meu ouro, a minha essência
Para quem apenas se divertia
Com o meu grito, com a minha dor
Falei brincando o que era sério
Todos riram e brindaram
Os imbecis queriam pão e circo
Eu, em pleno Coliseu, entre os leões,
Sabia que com palavras não venceria
A morte.


15.10.2018.

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Sós.

Quer isolar-se? Questione-se.
Mas não se iluda, somos sós!
Do útero aos sete palmos da terra
Sós, absolutamente sós
Compartilhamos apenas
Quando eles permitem
Ideias, espaços e afetos
Ou quando eles não sabem de nós.


15.10.2018

Papai e mamãe.

Papai morre de medo da violência
Por isso enche a casa de cadeados
Papai morre de medo da vida
Por isso fica trancado no quarto
Noite e dia evitando perigos
Papai compra carro de luxo
E depois tem medo de colocá-lo
Para andar na rua, absurdos
Talvez traumas da ditadura...
Mamãe ainda é da monarquia
Tem uma sala de luxo vazia
Sempre a espera de visitas
Que nunca viriam
Tão triste, tão vazia, tão antiga
A poeira e o tempo fizeram proveito
Da sala de visitas vazia
Enquanto a família perecia
Sem um amigo, sem um bandido...


15.10.2018

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Passado.

Agora roubaram o passado
Esqueci a memória
Em algum canto da sala
Agora me perdi para sempre
Se não sei quem eu era
Como encontrar quem seria?
Agora está tudo confuso
Não me parece ser o futuro
Tudo tão parecido com o que já foi um dia
Tão diferente do que era certo para ser
Agora me pararam na rua
Insistem em me incomodar
É a polícia, eles não me deixam em paz
Me pararam em uma blitz
Me colocaram uma arma na cabeça
Sim, é uma arma, parece um fuzil
O comandante começa a gritar
Ele me pergunta tantas coisas que não sei
Eu realmente não me lembro de nada
Ele me pede a identidade
Eu a perdi, não adianta mais procurar
Não sei onde a deixei pela última vez
Esqueço-me lentamente de tudo
Mas lembro-me da palavra futuro
Fuzilada à queima roupa bem na minha frente
Ataque soviético, eles diziam e riam
Meu corpo tremia
Eu estava surda do presente
Eu estava morta para sempre
Impossivel lembrar de quem fui
Eu só queria um cigarro
O último cigarro, eu sei
Seria o melhor de todos
Eu agradeceria, sempre agradeci
Eu não poderia mais lembrar
Só me restava esquecer
Para sempre no passado
A minha identidade
Morta.

Imagem: Cena do Filme "Ensaio sobre a cegueira", inspirado no livro de mesmo título do José Saramago,  filmado em são Paulo, nas margens do Rio Pinheiro.

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Sonhos.

É alto o preço
Que pagamos
Pelos sonhos
Que não consumimos;
E pelos bens
Que compramos
Ao vendermos
Nossas almas
No mercado clandestino
Da felicidade
Inatingível.

♫ I'm in heaven

As guerras são sempre
Profundamente devastadoras
Levam corpos, almas, peles
Olhos, lágrimas, abraços, mãos
Levam tua casa, tuas coisas
Aquele teu disco preferido
O teu livro de estimação
A tua fotografia preferida
As guerras levam nossa alegria
Nosso desejo por pipoca, cinema
Matam nossa sede de amor e de cerveja
A guerra traga o nosso último cigarro
E joga as bitucas ainda acesas pelo chão
A guerra desarrumou para sempre meus cabelos
Minha cama, meu armário de coisas inúteis
A guerra debochou das minhas poucas coisas
A guerra fez estragos e não terei mais tempo
Deixarei tudo para depois
O quarto, a cama, os cabelos
As guerras são assim,
Uma tempestade de areia
E meus olhos estão fartos
Deixo para vocês o final da vitória
Fico com Ella and Louis Armstrong
Now, I am in heaven ♫
Heaven, I'm in heaven ♫
And my heart beats so that I can hardly speak ♫
And I seem to find the happiness I seek ♫
When we're out together dancing cheek to cheek ♫♫


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terça-feira, 25 de setembro de 2018

O golpe.

O golpe veio a galope
Cavalaria inteira
Golpistas armados
Armas de demência letal
Armas de ódio e fogo
Armas de ponta e corte
Rasgaram meu peito
Quiseram meu sangue
Espalhado na rua em pleno meio-dia
O golpe veio a galope
O golpe atropelou quem passava
O golpe depôs uma Presidenta eleita
O golpe assaltou famílias inteiras
O golpe matou Marielle e outras mulheres
O golpe matou os meninos do sinal fechado
O golpe levou nosso gás de cozinha
O golpe secou nossa água e gasolina
O golpe quer nosso sangue e nosso pré sal
O golpe quer mentir nas manchetes de jornal
O golpe debochou da nossa preocupação na fila do pão
O golpe aprisionou o homem do povo
O golpe quis eleger o inimigo do povo
Mas as Marias de todo o nosso chão, levantadas,
Deram-se as mãos e ecoaram uma só voz
Ele Não! Ele Não! Ele Não!
Ele Não! Ele Não! Ele Não!
Ele Não!

(Mariana de Almeida)

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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Inútil resistir.

Que perigo
Fitar os olhos
De quem não desejamos amar;
Que perigo
Mirar a boca
De quem não desejamos beijar;
Que perigo
Encarar a vida
De quem não desejamos estar;
Que perigo
Não querer
E já ser refém;
Pertencer a alguém
Antes mesmo de conhecê-lo
Por vezes ou descuido
Acontece
Antes do sim
Antes do não
Inútil resistir.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Haja.

Haja tantas consequências
Para tão poucas escolhas;
Haja tanto fardo
Para tão pouco bálsamo;
Haja tanta cruz
Para tão pouco corpo;
Haja tanta estrada
Para tão pouco destino;
Haja tanta promessa de vida
Para tão poucas alegrias;
Haja, haja, haja
Tudo que me bastaria
Se não me faltasse.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Esquizo amor.

Amores esquizofrênicos
Em era virtual
Tem foto perfil
Roubada do Google
Sorrisos colados 
Em redes sociais
Sozinhos, às claras,
Encharcam travesseiros
Onde sonhos gritam
A dor da nossa solidão
Realidade é a perda
E mentira é a negação
Nunca se mentiu tanto
Para padronizar e capitalizar
O que antes era poesia.

Flerte verbal..

Nosso papo é um flerte
Nossas palavras se misturam
Disfarçam e se copulam
Gozamos em plena avenida
Ao meio dia
Ao meio tom
A língua atiça
Meu desejo por você
Poesia.

Esquecer

Devemos esquecer
Absolutamente
Tudo o que nunca houve
Entre a gente
E esquecer, principalmente,
Tudo, o que, em vão
Sigilosamente
Desejamos.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Papel em branco.

O papel em branco incomoda
Interroga-me
Rabisco ao léu minhas confissões
Meus amores ocultos, inimagináveis
Esqueço os espinhos todos 
E reescrevo minhas palavras
Ilustro minhas histórias de menina
E amasso finais tristes de papel;
O papel em branco incomoda
Encara-me de frente
Cobra-me uma resposta
Da vida e das horas que me foram impostas
Para serem vividas e celebradas
Devemos fingir que a felicidade existe!
O papel em branco me incomoda tanto!
A caneta espera, espreita e quase me irrita!
E finalmente mancha o papel com novas histórias
Eu sigo meus dias de iras e glórias
Revivendo na cidade os rabiscos que traço
Nesse papel em branco a espera por uma nova aurora.

Visão.

Cuidado ao querer acender as luzes
Do porão da sua alma;
Você nunca sabe
Quando estará pronto
Para enxergar 
Aquilo que os olhos
Não foram capazes de ver!

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Eu nunca te amei.

Eu não te amo, simples assim.
Eu nunca te amei, eu nunca te desejei.
Eu amei suas letras, seu enredo, sua arte
Mas nunca desejei sua carne nem a sua alma
Que agora os laços todos se desfaçam antes do fim!
Aquela amizade cheia de cumplicidade não era mais que um disfarce, 

Você no fundo, sempre me quis ao teu lado, pouco importavam minhas palavras, 
Minha poesia que você nunca entendeu porque com certeza nunca leu com os olhos de um leitor,
Seus olhos eram de homem faminto, pela minha carne e minha palavra, que te jurasse fidelidade e                                                                                                                                                           exclusividade.
Você, cego, não poderia jamais saber, tudo que a poesia pode ver.

(Mariana de Almeida)


terça-feira, 21 de agosto de 2018

Eu gosto do mal.

Eu gosto do mal
Da energia vital
Da força sexual 
Que tudo mantém
(Como é a energia oculta que vem da força do mar);
Eu gosto do mal
Eu gosto do desejo que há
Na pele, na pétala, na flor
Porque o mal tem poder
E o poder é o que me mantém a você;
Eu gosto do mal
Porque o mal é a verdade do bem
O mal é a nudez exposta a luz do bem
O mal é a dor que excita sob o bem
O mal é a desordem descarada do bem;
Eu gosto do mal
Da energia vital
Da verdade animal
Da força sexual
Dos desejos que escravizam;
Eu gosto do mal porque sou fêmea
Sou animal, sou bicho,
Sou o que nunca basta
E estou viva, apesar de, todavia...
Porque desejar só o bem
É desejar o horror da vida
É a mentira do mal
É a hipocrisia da ordem
É a morte dos sentidos
É o meu prazer reprimido;
Eu gosto do mal
Porque ele mostra
Na carne e na cara
O que o bem disfarça
Mas nunca satisfaz com verdade.
.

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A mulher que um dia eu fui.

Há muito terminei com a mulher que um dia eu fui; 
Às vezes, distraidamente, a encontro em um espelho qualquer; 
Nos cumprimentamos formalmente 
Ela segue para o passado 
Eu sonho para o futuro. 

(Mariana de Almeida).


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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Ensurdecedor.

Passei minha vida reclusa
Infância atrás das portas
Dentro de armários
Debaixo de cobertas
Travesseiros para abafar os sons;
Passei minha vida reclusa
Juventude atrás de ídolos mortos
Dentro de livros
Ouvindo discos
Com som alto para abafar os sons;
Passei minha vida reclusa
Mulher atrás de palavras, preces
Dentro das noites
Dentro da boêmia
Em busca da poesia que pudesse abafar os sons;
Passei minha vida reclusa
Com medo das ruas de gente
Com medo das vozes
Com medo do meu grito
Que ao eclodir, revelaria todos os sons.


Fotografia: Ricardo Laf.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

A vida.

Eu apressada
Fingindo que não via
Fugia, fugia...
Não entendia
Que a vida era isso
Um trânsito interminável
Entre a fila do supermercado 
E o meio dia...
E que de repente, 
Do nada ela se finda
A vida que um dia foi prometida.

(Mariana de Almeida).

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Ninguém é o mundo inteiro.

Não espere nada de ninguém
Ninguém nos deve nada
Ninguém tem nada para dar
Ninguém fez coisa alguma
Ninguém fará nada também
Ninguém nos dirá uma palavra
Ninguém nos alimentará a alma
Ninguém nos ofertará beleza
Ninguém saberá de nada
Que nunca aconteceu
Ninguém nunca viu nada
Ninguém desfez o mundo
Quando era preciso;
Ninguém parou o tempo
Quando mataram um menino;
Ninguém impediu o primeiro ato
Da nossa tragédia existencial;
Ninguém nos libertou
Na hora final, ninguém.


Imagem: Sebastião Salgado.

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Sobre o Dia do Pais e outras datas.

Que o capitalismo é um sistema cruel, sanguinário e impiedoso, isso nós já sabemos faz tempo. E para a manutenção do mesmo é necessário estimular o consumo desenfreado, mais que isso, é necessário criar a necessidade de consumo. Todos os dias necessitamos de mais coisas porque o sistema cria novas necessidades. E a criação de datas "fofas" foi um tiro certo como todos sabem para aquecer as vendas nos comércios .
Eu considero todas essas datas cruéis: Natal, Dia das crianças, Dia das mãe e Dia dos pais. Na época do Natal e Dia das crianças a mídia vomita suas propagandas exaustivamente para a criança desejar determinados produtos, produtos caros que muitos pais ou familiares simplesmente não podem comprar: "Mãe eu preciso de videogame!" E como uma mãe de família que ganha em torno de um salário minimo pode atender ao desejo de seu filho? Ou seja, uma crueldade.
Agora nada é mais doloroso para uma criança orfã que o Dia das mães ou o Dia dos pais, porque além da mídia vomitar suas propagandas educando erroneamente as crianças de que devemos presentear quem amamos para provar nosso amor, ainda vem a escola com aquelas festinhas estúpidas para homenagear os pais! Vocês já pararam para pensar em quantas crianças simplesmente não tem mãe? E quantas não tem pai? "Ah, mas se não tem mãe, sempre tem alguém para ir no lugar: uma avó ou uma tia." Não, nem sempre tem um parente ou uma vizinha ou sei lá quem para substituir o que representa uma mãe ou um pai para uma criança, é simplesmente humilhante para a criança orfã participar desse tipo de evento. E orfão não quer dizer que tem o pai ou a mãe falecidos, na maioria das vezes são orfãos porque foram abandonados mesmo.
E dia dos pais a hipocrisia é maior ainda, já que muitas mães acabam recebendo a homenagem no lugar do infeliz que abandonou a mulher grávida e não assumiu seus filhos.
Enfim, acho válido que todas as escolas revejam essa questão e parem com essa manifestação bonitinha, mas que pode dilacerar uma criança.
Devemos educar nossas crianças ensinando-as que todos os dias são dias para demonstrar nosso carinho e não precisamos presentear para provar nosso afeto.

(Mariana de Almeida).

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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Netuno

Dos filhos que não gerei, sinto falta somente daqueles que desejei gerir pelo coração. Sim, sempre quis um companheiro que militasse em diversas causas humanitárias comigo e a adoção de crianças foi um dos  sonhos que me alimentou a existência. Seria um jeito de me sentir menos culpada? Menos hipócrita? Menos bandida nesse mundo?
Acabou que tudo deu errado e o parceiro que tive só me deu uma filha biológica a qual ele não pode cuidar nem educar, abandonou o barco e eu segui oceano adentro com minha pequena, resistindo à medida que a loucura permitia. Acreditem, resistir quando se tem carência de tudo não é a tarefa mais fácil desse mundo... Naufragamos, eu e ela, por diversas vezes em um barco tão frágil diante da ira de Netuno. Nos agarramos como deu, corpo com corpo, mãos com mãos e olhos de sal entre a imensidão do oceano. Às vezes ela me dizia que o mar era uma lágrima do menino Deus, o gigante que tudo via e sabia de nós. 
Não sucumbimos, muitas vezes boiamos até alguma praia segura em busca de abrigo e alimento, mas sempre juntas, entre um pôr e nascer de sol constante.
Netuno enfim se redimiu, não nos arremessou na escuridão do fundo do mar, nos adotou como filhas legítimas regidas por ele.
Agora caminho descalça sobre o asfalto e a areia quente.... não dói, e ao fechar os olhos ainda ouço o barulho das águas inquietantes do mar.
(Mariana de Almeida).

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terça-feira, 7 de agosto de 2018

O amor é radiofrequência.


     Mulher, de uma vez por todas, vamos parar de romantizar o sofrimento, a ilusão e a esperança! Sim, pare de romantizar que um dia a pessoa que você tanto deseja vai querer estar com você, que um dia ela vai se apaixonar também e que terá valido a pena esperar por tanto tempo enquanto a mesma se divertia com seus sentimentos. Mulher, entenda, isso não vai acontecer. Nem sempre quem gostamos vai gostar de nós, nem sempre quem idealizamos nos idealiza também e tudo bem! Não será a primeira nem a última vez que isso acontecerá em nossa vida. 
     Tá, dói pra caramba, eu sei, aperta o coração, você imagina mil cenas, toda música que ouve quer compartilhar com aquela pessoa, imagina sorrisos, beijos roubados, abraços apertados, cumplicidades e tantas outras coisas, mas e daí? A pessoa não quer e ponto final. Veja quanta gente gostaria de estar agora com você, quantas pessoas esperam apenas por um sorriso seu? Não se isole do mundo esperando por alguém que nunca virá. Chore, sinta, esvazie o seu peito e recomece a se amar, sim, volte a se amar e fazer as coisas por você e para você. Faça a ti mesma feliz!
     Lembre-se: Ninguém pode nos dar aquilo que não tem! Seja amor, amizade, respeito, gratidão, lealdade, paixão e nenhum outro sentimento. Entenda que você se encantou por alguém com afinidades talvez até profundas, mas é só isso. Desejo passa, amor não correspondido passa, mas o amor próprio nunca.
     Não viva de esperanças, porque a mesma pode ser muito traiçoeira, não viva de ilusão porque ela não existe e não viva de sofrimento porque você merece viver coisas boas. Nossa educação e cultura judaico-cristã desde muito cedo nos ensinam que depois de todo sofrimento virá a recompensa, que a mulher deve esperar e aceitar o que o homem decide e impõe. Isso é extremamente nocivo, pois condicionou a maioria de nossos comportamentos até hoje nos rebaixando à submissão, dor e abusos.
     Amor é comunhão, crescimento, soma, alegria, além de desejos a flor da pele e só acontece quando duas pessoas sentem o mesmo. O amor é o sagrado da vida e por isso é raro. Sortudos os que encontram e reconhecem o amor através dos olhos, da pele, do cheiro e da conexão mental.
     Enquanto isso não te acontece, saiba ser o melhor para si mesma, desconstrua as falsas crenças de que o amor é sinônimo de dor e esperança. 
     O amor é milagre, o amor é joia e o amor é bom; por isso ele é tão desejado. Todos queremos ser premiados por ele, mas para vivenciarmos o amor é preciso que o outra sinta o mesmo, pois ele acontece entre duas pessoas que sentem e desejam a mesma vivência e experiência e nunca acontece por força de apenas um coração apaixonado. O amor acontece quando duas estações se sintonizam na mesma frequência.


(Mariana de Almeida).

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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Um conto à toa.

          João tinha apenas catorze anos quando foi pela primeira vez para o reformatório ou casa de detenção para menores. Quando começaram os primeiros sintomas de inadequação social? Não se sabe, talvez ainda bebê já que João chorou sem parar os três primeiros meses de vida, não havia o que fazer, a mãe não tinha leite e apesar de ser muito pobre, os poucos parentes e vizinhos se reuniam para comprar o leite em pó para o guri, aí cada um encontrava uma teoria para tanto choro: cólicas, falta do leite materno e da quentura do peito da mãe, alguma doença oculta, maus espíritos, mau agouro, má sorte, entre tantas outras invenções daquele povo. As más línguas juravam de pés juntos que era abstinência o mal do bebê, já que a mãe foi vista bebendo e fumando diversas vezes mesmo expondo a enorme barriga sem o menor constrangimento. A mãe de João tinha apenas dezessete anos quando engravidou, não tinha certeza quem era o pai, mas acabou juntando os trapos com um deles acreditando que a vida seria generosa e que até poderia ser feliz com aquele garoto de dezoito anos que daria um nome ao seu filho, sim, um nome e um sobrenome.
          De lá para cá, João não obteve muita sorte na vida, outros irmãos vieram, pobreza, moravam na favela e passavam o dia praticamente sozinhos em casa, o casamento da mãe era violento, pois os pais  bebiam demais, gastavam quase tudo com cachaça e cerveja, os filhos eram esquecidos e contavam com a sorte de vizinhos.
         João era o mais velho dos irmãos, detestava ir para a escola, não acompanhava de jeito nenhum, não conseguia se concentrar nem ficar quieto. A família nunca participou das reuniões escolares para saber o que passava com o menino. Sempre eufórico, gaguejante, falante e de olhos arregalados, era o terror da sala de aula, pois perturbava a atenção de todas as outras crianças. 
          Depois da escola, João ia para casa e para a rua e foi lá onde aprendeu as piores coisas da vida: mentir, esconder, roubar, fazer favores aos garotos mais velhos, fugir da polícia...entre outras, mas tem sempre um dia em que a casa cai e foi numa dessas que João foi para o reformatório a primeira vez, depois foi a segunda, a terceira, depois para a cadeia e depois perambulava como mendigo pelas ruas do Rio de Janeiro. O pai tinha sido morto baleado há alguns anos, a mãe alcóolatra em estado decadente, os outros irmãos seguiam com a vida, a irmã era evangélica ferrenha e encontrou a salvação nas palavras do Pastor, inclusive casou com ele. A igreja a qual a irmã faz parte participa de algumas ações beneficentes como servir sopa de madrugada aos moradores de rua, oferecem abrigo para quem quer tentar uma vida nova e limpa, doam brinquedos no natal para crianças de famílias necessitadas e foi numa dessas ações que a irmã reconheceu João e ofereceu ajuda para livra-lo das ruas e das drogas. Ele aceitou, passou por cuidados, foi avaliado e diagnosticado como esquizofrênico, estava realmente doente e precisaria de acompanhamento para sempre. João foi viver nas Pastoral das Orquídeas, comunidade terapêutica mantida por doações e a ação de muitos voluntários, principalmente da igreja. Lá eles se alimentam, fazem hortas, pomares, cuidam dos animais, dividem tarefas, tem aulas de arte, assistem televisão e oram, oram muito. 
           A atividade preferida de João era cuidar do pomar, ele abraçava as árvores, podava, adorava ver os frutos nascendo e colhia todos quando estavam maduros, mas o seu preferido era o pé de limão o qual ele mesmo plantou. Cresceu, era lindo, cheio de folhas verdes muito cheirosas e carregado de frutos. João podia passar horas, um dia inteiro deitado sob o pé de limão só observando cada detalhe dos seus troncos, folhas, formigas que passavam, passarinhos que faziam ninho escondidos, o vento balançando as folhas e exalando ao mundo seu perfume de limão. A vida estava sendo razoavelmente boa pela primeira vez com João e ele sabia disso, pois apesar de não dizer nada, sorria timidamente quando o chamavam pelo seu nome: João! O João!
           João, depois de anos, ficou conhecido como "João do pé de limão", segundo consta, sua vida sempre foi amarga como limão, mas nunca, jamais florida e tão verde.


(Mariana de Almeida)

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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Da Poesia.

Da Poesia 
Quero a ausência das rimas
Quero a ausência de ritmo
Quero a ausência de métrica;
Quero minha poesia
Como ela é, 
Aleijada, disforme
Manca, feia
Pobre, baleada
Quero minha poesia
Como quem quer um animal abandonado
Quero minha poesia
Como quem busca companhia onde não há
Quero minha poesia
Como quem busca pelo último teco de pó
Quero minha poesia
Como quem paga pela puta só para conversar
Não quero adornos, cores nem falsetes
Quero só a minha poesia
Exatamente como ela é.


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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Novo livro.

Ganhei um mesmo livro de uma mesma pessoa
A capa agora era dura, nova edição, muito mais elegante
Fiquei receosa em aceitar, mas veio como presente
E presentes são presentes, merecemos aceitar
Abracei o livro com força enquanto deitei em minha cama
Chorei sem saber ao certo o porquê...
Da primeira vez que o li esperava mais do final,
Quem sabe um final épico que pudesse nos redimir
Nessa segunda leitura, interpretei entrelinhas
Havia delicadezas quase imperceptíveis...
Porém, o final agora era belo e fazia todo sentido
Prolongar tal história seria enfadonho 
Perda de tempo para as personagens 
Que anseiam por novos enredos e desfechos
Recebi meu presente com gratidão, foi realmente belo
Encontrei o ponto final que faltava para minha ilusão
E iniciei um novo parágrafo no meu coração.

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Fotografar é parir com os olhos.

Poesia é a revelação das fotos
Que nunca foram tiradas.


Imagem e palavras: (Mariana de Almeida).

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I Know...


Dói meu coração pensar em você
Nunca te amei e nem irei, eu sei
Mas dentro do peito
Te amo absurdamente
Se diz algo triste, eu não esqueço
E me tortura, por dias, o pensamento
Se diz algo que não sei
Corro pesquisar porque preciso te saber
Se diz algo alegre ou escrachado
Mata-me de rir e fico feliz de alguma forma ao teu lado;
Nossa matéria está longe e tememos por nossa desgraça
Sabemos que as melhores alegrias antecedem os piores infernos
Sabemos que depois do amor tudo é deserto...
Te amo desesperadamente e por isso não posso
Correr o risco de te amar e te perder.

(Mariana de Almeida).

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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Sonhos.

Matam sonhos diariamente
Eles não sabem que é inútil
Os sonhos nunca morrem
Quem morre é o homem.


A imagem pode conter: atividades ao ar livre, natureza e água

Postagem em destaque

Sobre escrever.

Escrever é preciso, ser lido já é outra coisa Escrever é necessidade, impulso, grito Ser lido é invasão, dedo na cara, condenação Jul...