sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Ensurdecedor.

Passei minha vida reclusa
Infância atrás das portas
Dentro de armários
Debaixo de cobertas
Travesseiros para abafar os sons;
Passei minha vida reclusa
Juventude atrás de ídolos mortos
Dentro de livros
Ouvindo discos
Com som alto para abafar os sons;
Passei minha vida reclusa
Mulher atrás de palavras, preces
Dentro das noites
Dentro da boêmia
Em busca da poesia que pudesse abafar os sons;
Passei minha vida reclusa
Com medo das ruas de gente
Com medo das vozes
Com medo do meu grito
Que ao eclodir, revelaria todos os sons.


Fotografia: Ricardo Laf.

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