terça-feira, 3 de outubro de 2017

Bordado de sangue.

Mamãe era uma bordadeira de mão cheia
Bordava os mais belos sonhos e desenhos
Nos seus doces tecidos de bordar
Bordava passarinhos, bolas, flores e bebês
Toda sua doçura ela registrava ali
Na vida nem sempre há espaço
Para tecer e bordar algumas ternuras
Há delicadezas que só se revelam na arte;

Enquanto de longe eu a ouvia bordar
Algo me dizia que estava tudo bem
Restava algumas tardes de paz antes do final
Eu, filha da ordem contrária, do medo e do caos
Nunca tive talento com desenhos, linhas e agulhas
Minha doçura me traía a cada não dessa vida
Pra mim tomei as palavras, comprei a crédito
E nunca as paguei, exceto com minha tinta de sangue
Que extraio dos pulsos para manchar alguns papéis.

(Mariana de Almeida)



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