Uma vez soube do amor
Me disseram tantas coisas
Que preencheria minha alma
Afastaria meus medos todos
Aqueceria meu peito no inverno
Que o vinho seria compartilhado
Nossos laços seriam sagrados
Me disseram que valeria a pena
Eu veria o sentido de tudo, a vida
E o grande mistério se dissiparia.
Uma vez então conheci o amor
Foi tanta felicidade que não pude me conter
Acordei o amor às três da madrugada, em êxtase
Para lhe jurar que aquela alegria nunca acabaria
Depois nos amamos com selvageria até o dia amanhecer
E sim, logo cedo o sol invadiu a janela do nosso quarto
Depois foram tantos planos, desejos, sonhos e paixão
Casa, viagens, filhos, empregos, boletos e mais paixão
Programamos toda nossa felicidade até noventa anos
Quanta alegria e pureza é o amor!
Então quando tudo poderia ter sido nosso,
O amor adoeceu, sua aura clara escureceu, o frio chegou em nós
Por isso o amor um dia se foi, abriu a porta sem dúvidas e partiu
Precisava de ar, espaço, música, um porre na Vila Madalena ou Berlim
A sua coragem em estancar a sangria, ainda que com alguma ternura, feriu-me
O amor ficou louco, transtornou minha vida, cancelou contratos, pagou caro
Deitou-se em outras camas em busca do amor que nunca mais eu lhe daria
O amor foi cruel, impiedoso, sádico, e depois de dias quis voltar à porta
Mas não abri, estava morto, eu precisava aceitar, era preciso fazer a passagem.
Conheci e vivi o amor, bebi do seu vinho e o quis somente para mim,
Perdi e hoje sou uma peregrina de mim mesma, caminho sem saber,
Quando será a ressurreição do amor em minha vida e meu coração
Uma vez o vi perto do mar, na rochas que o cercam, mas não era
Outra vez o vi próximo ao Coliseu, como um gladiador, não era
Outra ainda, no aeroporto, fila de embarque, o perdi de vista, não era também
Às vezes o encontro em meus sonhos ou elevações, e isso me basta por hora,
Pois ao tocar-lhe novamente, nada direi, nada esperarei, nada prometerei
Apenas seremos Sol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário