Toda vez que nego o mundo
E sou queimada por ele,
Sei que sou mulher
Toda vez que nego o sistema
E sou perseguida por ele,
Sei que sou mulher
Toda vez que nego o homem
E sou ameaçada por ele,
Sei que sou mulher
Toda vez que me tiram a paz
Toda vez que me roubam o ar
Toda vez que me deixam no vão,
Sei que sou mulher
Quando me reconheço em outras mulheres
Temos o mesmo semblante e olhos cansados
Temos os mesmos sonhos e cárceres privados,
Sei que sou mulher
Quando distraída vejo meu reflexo no espelho
E cumprimento minha avó, minha mãe e minha filha
Dentro de minha pele, ossos, lágrimas e sangue,
Sei que sou mulher
Que meu útero de outros úteros fecundaram a terra
E carregaram gentes de outras gentes de outras
Do fundo do oceano para o chão que agora piso
E sujo meus pés porque sei que sou mulher.
(Mariana de Almeida)

Nenhum comentário:
Postar um comentário