sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Poema velho.

Envelhecer nos silencia
São pequenos ímpetos que silenciamos
Já não me vale a pena certas palavras
Emudeço ante o horror, o gélido e o feio
Não falarei também sobre como te esqueci
(Guardo as melhores palavras só para mim)
Poderia falar de como gosto de coisas novas
Um livro novo, um café, um cigarro depois
Mas isso já é tão velho em mim...
Poderia contar sobre meu novo vício
Sabonetes de limão siciliano humm
Aquele cheiro que invade a pele, a casa e tudo que os olhos veem!
Poderia contar sobre como tenho gostado mais de cozinhar
Como tenho colecionado plantas, elas parecem cantar para mim
Também deveria contar como os cabelos estão nascendo brancos e eu os observo com respeito!
Poderia contar como é lindo ver um filho crescer e ser uma pessoa boa no mundo
Poderia contar que quero ter um gato pela primeira vez
Poderia contar tantos segredos lindos!
Mas minha voz falha perante o absurdo
Deixo minha vista cansada saborear o silêncio do que não precisa ser dito
Penso no horror, mas recuso-me a falar
Minha garganta trava em protesto!
Tenho me silenciado, tenho envelhecido, tenho sabonetes novos guardado em gavetas íntimas
Tenho me protegido de quem fui para receber quem agora sou e não há muito o que falar.
É preciso silêncio para se envelhecer em paz.


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