sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Poema velho.

Envelhecer nos silencia
São pequenos ímpetos que silenciamos
Já não me vale a pena certas palavras
Emudeço ante o horror, o gélido e o feio
Não falarei também sobre como te esqueci
(Guardo as melhores palavras só para mim)
Poderia falar de como gosto de coisas novas
Um livro novo, um café, um cigarro depois
Mas isso já é tão velho em mim...
Poderia contar sobre meu novo vício
Sabonetes de limão siciliano humm
Aquele cheiro que invade a pele, a casa e tudo que os olhos veem!
Poderia contar sobre como tenho gostado mais de cozinhar
Como tenho colecionado plantas, elas parecem cantar para mim
Também deveria contar como os cabelos estão nascendo brancos e eu os observo com respeito!
Poderia contar como é lindo ver um filho crescer e ser uma pessoa boa no mundo
Poderia contar que quero ter um gato pela primeira vez
Poderia contar tantos segredos lindos!
Mas minha voz falha perante o absurdo
Deixo minha vista cansada saborear o silêncio do que não precisa ser dito
Penso no horror, mas recuso-me a falar
Minha garganta trava em protesto!
Tenho me silenciado, tenho envelhecido, tenho sabonetes novos guardado em gavetas íntimas
Tenho me protegido de quem fui para receber quem agora sou e não há muito o que falar.
É preciso silêncio para se envelhecer em paz.


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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Rendo-me.

Rendo-me
Porque sei que perdi
Rendo-me
Porque sei que pequei
Rendo-me
Porque embora tentei fugir
Sabia que não haveria saída
Teus olhos caminhos de abismo
E se errei ao testar até o fim
Pagarei a pena imposta
Com êxtase e glória!
Minha perdição foi você
Demônio que prometia a paz
Torturou-me a carne com palavras
Marcou em brasa meu coração
Entre minhas pernas fez morada
Profana oração.


Arte: Katiko.
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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Bandido.

Aquele bandido
Não bastasse entrar na minha vida
E roubar tudo que havia dentro dela
Alegria, livros, discos, umas roupas
Mas deixou meu cinzeiro de estimação
Os cigarros se foram, o whisky também
Ficou o porta retrato abstrato...
Aquele bandido
Roubou meu pequeno aquário de sonhos
E foi vivê-lo com outra iludida
Aquário velho, peixes novos
Sonhos velhos, tempos novos
Aquele bandido
Antes fosse só isso
Fiquei sem água
Sem cigarro
Sem chão...
Deixou a luz ser cortada
Gastou o dinheiro no bar
Apostou tudo no bicho
E deu azar
Perdemos tudo.

Maldito burro!

(Mariana de Almeida)

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Nude.

Tive que pagar o preço
Todos sabiam do erro
O vazamentto
Da besteira
Das tetas nuas
Tela impressionista
Do quadro
Na sala 
Da tela
Do computador
A dor exposta
Em megapixels
Na cor nude
Que escondia
O vermelho
Sangue
Sangue
Sangue.

(Mariana de Almeida)


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Feliz.

Eu fui tão feliz!
Estou tão grata...
Não porque vi os dias claros
Em tempos escuros,
Não porque senti o calor
Em plena tempestade de neve,
Não porque senti o amor
Em pleno bombardeio de ódio,
Não porque colhi os girassóis
Em uma terra improdutiva,
Mas porque sei que estava viva
Quando todos, loucos,
Já estavam em estado
De putrefação moral!
Eu fui tão feliz!
Eu estava viva
E eu pude ser
Tudo que o amor prometia.

(Mariana de Almeida).

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Sei que sou mulher.

Sei que sou mulher
Toda vez que nego o mundo
E sou queimada por ele,

Sei que sou mulher
Toda vez que nego o sistema
E sou perseguida por ele,

Sei que sou mulher
Toda vez que nego o homem
E sou ameaçada por ele,

Sei que sou mulher
Toda vez que me tiram a paz
Toda vez que me roubam o ar
Toda vez que me deixam no vão,

Sei que sou mulher
Quando me reconheço em outras mulheres
Temos o mesmo semblante e olhos cansados
Temos os mesmos sonhos e cárceres privados,

Sei que sou mulher
Quando distraída vejo meu reflexo no espelho
E cumprimento minha avó, minha mãe e minha filha
Dentro de minha pele, ossos, lágrimas e sangue,

Sei que sou mulher
Que meu útero de outros úteros fecundaram a terra
E carregaram gentes de outras gentes de outras
Do fundo do oceano para o chão que agora piso
E sujo meus pés porque sei que sou mulher.


(Mariana de Almeida)


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