sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Nosso amor.

E o nosso amor morreu assim
Não foi tão repentino...
Mesmo um ataque cardíaco
Tem lá seus motivos
Algumas desilusões
Envenenam qualquer coração
Não tem aorta que resista;
Nosso amor foi bonito
Enquanto eu cuidava de você
E você cuidava de mim
Você me abraçava forte
Quando eu temia a chuva lá fora
Éramos dois em um
Ou um em dois?

Não, essa conta não fecha...
Nos perdemos ao nos encontrar
E nos resgatar de nós mesmo
Foi a morte da nossa metade
Louca, cega e dopada de paixão;
De volta a ser um, silêncio se fez
O ciclo se fechou
A página virou
A chuva não mais assusta
O sol sempre volta
Na mesma janela de um novo verão;
Nosso amor morreu assim
Mas nós estamos vivos
Tão vivos, meu bem.

(Mariana de Almeida).

terça-feira, 26 de setembro de 2017

De leve.

Nossa, você não usa maquiagem?
Uso, de leve.
Nossa, você não faz dieta?
Faço, de leve.
Nossa, você não faz academia?
Faço, de leve.
Nossa, você não usa saia?
Uso, de leve.
Nossa, você não pinta os cabelos?
Pinto, de leve.
Nossa, você não usa jóias?
Uso, muito de leve.
Nossa, você não ama sapatos?
Não, nem de leve, amo pés no chão.
Nossa, você não ama bolsas e acessórios?
Não, nem de leve, não gosto de carregar peso.
Nossa, você não ama crianças?
Amo, a leveza delas.
Nossa, você não ama ser mulher?
Amo, amo transgredir a ideia de mulher
Amo a força e a luta de ser mulher
Que combate o que não é ser mulher.
Nossa, mas você é peso pesado!
Não, eu sou leve, leve, leve....
O peso eu deixei faz tempo por aí
Em alguma revista feminina
Em algum outdoor na avenida central
Em algum folhetim de banca de jornal
Em alguma folha de outono que o vento levou.


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Se minha pele falasse.

Ah, se minha pele falasse
Quanta poesia dedilharia
Quanto sentido faria
Quantos jardins floriria
Quantos invernos aqueceria...
Quanta fome mataria
Quanta vida renasceria;


Ah, se minha pele falasse
O bem que faria ao tocar a sua
A paixão que eclodiria sob nossas vistas
O amor que sepultado antes, ressucitaria
E nos brindaria com o melhor da vida;

Ah, se minha pele falasse
Se minha pele gritasse
Se minha pele ousasse
Gritar pelo seu nome
No meio da rua em que me encontro
Talvez você ouvisse
Talvez você viesse...

(Mariana de Almeida).
 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Elevação.

Palavra;
Poesia;
Mantra;
Sentido;
Soneto;
Poema;
Terceto;
Quarteto;
Cantiga;
Gíria;
Letra;
Verso;
Rima;
Hino;
Refrão;
Palavrão;
Oração;
Ode;
Expressão;
Composição;
Sermão;
Declamação;
Declaração;
Intimação;
Hino;
Exaltação;
Som;
Alucinação;
Inefável
Som
Do
Coração.

(Mariana de Almeida).

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Roda gigante.

É sempre a mesma roda gigante
Que carrega e gira a nossa história;

É sempre na mesma volta
Que a roda enguiça e range;
E a história triste insiste
E reedita os mesmos velhos fatos;

É sempre a mesma luta
Pela pouca liberdade
É sempre o mesmo mal
Que fabrica o ódio em doses matinais
Impressos nos jornais;

E sempre é o mesmo ódio
Que fabrica armas e venenos
Para destruirem todos os lírios
Do nosso pequeno quintal;

É sempre a mesma noite escura
Que nos enche o sono de horror
É um céu sem estrelas
É um chão sem flores;

E a roda gigante do mundo
Embora enguiçada, velha e louca
Continua girando, girando
Enquanto range, range...

(Mariana de Almeida).
 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Gostos.

Gosto de poesia
e tudo o que ela grita;
Gosto de números e rimas
e tudo o que combina;
Gosto de belezas ocultas
Detesto belezas óbvias;
Gosto de delicadeza e bom senso
Odeio estupidez e mau gosto;
Inteligência me fascina e excita
Meu cérebro é meu corpo
E com ele faço uma festa;
Algumas burrices são imperdoáveis
Outras, apenas, brochantes para sempre;
Sou assim desde menina
Amo de uma vez e não para sempre
Pra sempre é sempre muito tempo
Para perder sem valer a pena.


Sozinho.

É que...
Entre um olhar e outro
Entre um café e outro
Entre um cigarro e outro
Entre um livro e outro...
Entre um porre e outro
Entre uma noite e outra
Entre uma porta e outra
Entre uma trepada e outra
Entre uma risada e outra
Entre um silêncio e outro
É sempre a mesma solidão...
É que entre a gente e o mundo
O mundo sempre engole a gente
E dentro da gente só há a gente mesmo
Sozinho, sozinho desde dentro do útero
Até o fim do mundo.


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Meu bem.

Meu bem,
Aceite meus pecados
Aceite minha dor
Aceite o meu melhor;

Não, não meu bem
Não tente me salvar
Não tente me curar
Não tente me roubar;

Pois minha dor foi lapidada
Como o mais caro diamante
Meus pecados todos
Me trouxeram até você;

Não estrague tudo agora
Não se corrompa
Não se perca do meu melhor
Juntos, seremos a vida;

Aquela vida,
Pura e verdadeira
Sem mentiras nem traição
Só amor e libertação.

(Mariana de Almeida).

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