Ainda antes de descer os degraus do Inferno
Ela disse-me para arrumar os cabelos
E molhar com tinta os lábios da ilusão
Disse-me para tingir de sangue as unhas todas
E também para abrir os botões da camisa
E insinuar os seios à frente como faroletes;
É preciso saber seduzir para ser uma mulher
Essas foram as últimas palavras ditas por ela
Antes de dirigir-me à porta de saída de emergência
Meu peito tamborilava, descompassado e pétrico
Ao som de sua risada mórbida e língua salivante
À espera de minha grande queda;
Não caí, agarrei-me ao corrimão da razão
Não ajeitei os cabelos ressecados, bravos
Também não lambuzei os lábios com batom
Nem empinei os seios fartos à luz da pretensão
Eu sou mulher, eu sei, de Maria, Eva e Clarice
Eu sou luz na escuridão, venho de longa alcatéia;
Eu sou mulher, eu sei...
Desde pequena tentaram me domesticar
Meu sexo antes da minha razão
Meus lábios antes das minhas palavras
Só desço ao Inferno quando o fogo sou eu
Eu sou uma mulher, eu sei...
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