Papai, não estou nada bem
Nenhum propósito fincou raiz no meu solo seco
Nenhuma palavra doce
Regou meu jardim de flores;
Mamãe, não estou nada bem
Nenhum amor de cinema vivi, nenhum sucesso galguei
Não conquistei níquel, nem ouro nem terras
Perdi tudo numa aposta maldita com os astros;
Filha, eu não estou nada bem
Te amar desesperadamente e não poder te ajudar
Tem matado-me lentamente
Como conta-gotas de facadas acertando-me o peito
Te quis mais que tudo
Desde o fundo do ventre
Até os poros da pele
Mas no jogo da vida, eu perdi;
Amigos, eu não estou nada bem
Continuar dia após dia essa busca vã
Tem me causado febre e torpor
Noites insones, gastura e insensatezes terríveis;
Nada me traduz nem completa
A vida calou-me
E em profundo silêncio quero estar;
Vim, vi e sofri.
(Mariana de Almeida.)
Um diário denunciando através de poesias e crônicas as dores e delícias de uma mulher face ao século XXI.
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