sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Sim, eu ainda vejo flores em você.

Eu ainda vejo flores nas sarjetas
Nas cercas que nos separam
Nos muros que nos dividem
Nas escadas que não alçamos;

Eu ainda vejo flores nos olhos
Nas mãos que não tocamos
Nas bocas que não beijamos
Nos pés que não seguimos;

Eu ainda vejo flores nas esquinas
Nos automóveis que nos oprimem
Nos aviões que nos deixaram aqui
Nas nuvens de sonhos de algodão;

Sim, eu ainda vejo flores em você
No bom dia que nunca trocamos
Nas mensagens que nunca lemos
No amor que nunca mais acreditamos;

As flores resistem aos séculos, meu bem
Resistem ao ar, aos homens, ao fogo
Resistem à mágoa, à memória e à saudade
Eu tento também.

(Mariana de Almeida)






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