quarta-feira, 22 de julho de 2020

É preciso enterrar o passado
Os mortos precisam descansar
E nós também.

(Mariana de Almeida)

A imagem pode conter: avião e céu

Homenszap.

Coisa mais previsível
São a maioria dos homens!
Nenhuma surpresa
Nenhum insight decente
Nada!

"Sonhei com você essa noite!
Quer ver como você me deixa?
Me manda uma foto de agora
Quer ver meu grande falo?
Como posso te foder?..."

Coisa mais insuportável
São os dias smartphones de hoje!
Sou constantemente invadida
Por mensagens indevidas
Em pleno meio-dia!

Vai para a casa do seu caralho!
Se não é capaz de me seduzir
Com o seu cérebro, desapareça da Terra,
Você não serve nem como verme
Você é apenas mais um otário!

Infeliz da Mulher que cai nessa cilada
Pensando em ser amada
Por mais um babaca frustrado
Foda-se você e seu próprio falo
Eu me apaixono por cérebros multicolores.


(Mariana de Almeida)


Projeto do fundo abstrato multicolor | Vetor Grátis

terça-feira, 21 de julho de 2020

Mortes.

   Quero contar sobre o nascimento da morte em nossos dias. Sim, há algum tempo, não sei exatamente desde quando, dei de parir mortes. Sei que gestacionei cada uma delas, mas agora que aqui estão eu as renego, não as reconheço e nem mesmo sinto o menor afeto. Está certo, sou responsável pelo seus nascimentos em minha vida, caí na cilada de me encontrar com os mortos e assim prenhei e depois pari!
   As mortes são diferentes, cada uma com sua própria personalidade, não tenho como domá-las. Me encantam por serem fêmeas, assim como a vida! Mas depois do breve encantamento, eu as rejeito. Não sou obrigada alimentá-las, meu par de tetas não tem mais sustância nem firmeza para isso, tampouco quero tocá-las ou acostumar-me à presença delas comigo. Sim, eu as gerei, eu confesso! As mortes nasceram e agora me querem como um amor maternal. Estarei sofrendo de depressão pós-morte?
   Eu me prenhei da morte quando aceitei seu primeiro tapa em minha face, quando você mandou-me calar a boca para lhe escutar, quando você explicou porque eu era burra demais e gaguejava na frente de todos, entre outras cenas da nossa triste vida. 
   A segunda vez que me prenhei da morte foi quando aceitei um subemprego o qual não me alimentava nem o corpo e nem a alma, era a sistematização da aniquilação, mas eu continuava porque sou muito fiel e da fidelidade também se pari Mortes.
   E mais uma vez pari. Fui à uma festa ao encontro de amores do passado, encontrei quem nunca me encontrou antes, mas prometia-me o depois. Foram tantas emoções, vestidos, malas, viagens e um aeroporto vazio só para mim. Voltei para o meu ponto de partida, quis foder com a morte, prenhei e pari. Agora eu pago este preço! 
   Com o nascimento das mortes em minha vida, percebi como um acontecimento mal cuidado leva a outro, a outro e depois outro. Uma sucessão de má ideias e desenrola-se um enredo funesto chamado de destino. Por isso, hoje mesmo decidi matar minhas mortes a sangue frio. É chocante, eu sei. Mas chegamos naquele exato momento da linha da vida em que somente eu ou elas poderão seguir adiante. E para salvar a minha vida, pela primeira vez, decidi que serei eu a continuar viva e não as minhas mortes. Despeço-me de cada uma com a lâmina fina e quente da minha navalha chamada alegria. E desta quero me prenhar pelo resto dos dias.
   Das mortes, quero o justo sepultamento e o adeus sem falsas memórias.


(Mariana de Almeida)





quarta-feira, 15 de julho de 2020

Palavra

Palavra
É lavra
Na pele do tempo

Metal extraído
Do fundo da terra
Lavado na lágrima

Reluz
Fere
Liberta
Ou mata

A fome
A terra
O poema
Ou o homem.


Mariana de Almeida.

2020

Medo de morrer

Medo de continuar

E esquecer

O antes;

As flores

O pólen

O Sol

A liberdade

Tudo que era quando eu não sabia ser.


Mariana de Almeida.

O afeto.



   Cada dia que passa lembro-me mais das pessoas que já amei, como passaram e deixaram marcas em mim. Lembrei aleatoriamente da Tia Cleusa, quem diria, a Tia que me vendia o melhor brigadeiro do mundo.  Hoje me olho no espelho e reconheço a Tia Cleusa que há em mim, os olhos fundos, as mãos aflitas, a preocupação com o fechamento das contas do mês que nunca fecham,  o sono após o almoço,  a vista prejudicada pelos livros e agora celulares, a aceitação da tudo como uma benção e uma cruz.
   A Tia Cleusa era a dona da cantina de onde estudei por anos, ela nos atendia com tanto carinho, que me apaguei demais à ela e aos doces que vendia. Quando eu não tinha dinheiro,  ela deixava comprar fiado,  o que me dava mais prazer ainda pelo doce e pela confiança dela em mim. Eu sempre esperava pela hora do intervalo para vê-la abrir o sorriso e dizer: "Bom dia, minha fofura! Você está boa?" e aquilo enchia meu coração de uma alegria instantânea e embora tantas vezes eu estivesse triste, nunca confessei nada à ela. Então eu respondia: "Oi Tia! Estou bem sim, vou querer um brigadeiro dois amores" e ela escolhia o mais bonito para mim. 
   No decorrer do ano letivo, eu ficava degustando meu brigadeiro ou lanche no balcão da cantina com minhas poucas amigas, afinal ter muitas amigas e ser popular requeria alguns pré-requisitos os quais eu não possuía, enquanto ela contava suas histórias, às vezes falava mal do marido encostado, às vezes falava do cansaço que  dava ter três filhas, várias vezes falava pelos cotovelos mal do governo, de como era difícil pagar em dia pelo ponto da cantina todos os meses, de como era difícil fazer dieta em um mundo com tantas coisas gostosas para se comer, entre outras coisas. Eu adorava ouvi-la, saber da sua vida além da cantina. Me arrependo tanto de nunca ter dito o quanto ela me inspirava, o quanto ela transmitia força e luz para mim. Às vezes imaginava como seria ser filha dela, será que ela era carinhosa assim em casa também? Ao final ela sempre repetia para nós: "Cada um tem sua cruz nesse mundo, é assim! Mas Deus não dá uma cruz maior do que você pode suportar" entre outras reflexões. Eu pensava se era mesmo verdade isso, porque eu não gostava da minha cruz, não gostava da cruz da minha mãe nem da cruz das pessoas boas do mundo. Eu nem tinha religião, por que então teria que carregar uma cruz? Enquanto isso ela continuava falando e depois beijava com força seu crucifixo que usava diariamente no colar, acho que era de ouro. 
  Quando eu voltava para casa e encontrava minha mãe triste no sofá,  repetia as frases "motivacionais" que aprendia com a Tia Cleusa. Ela ouvia me dando a melhor atenção que podia e depois, pensativa, respondia: "É verdade, minha filha". Assim a vida ia passando. 
   Um dia a Tia não foi trabalhar, dei de cara com o molenga do marido dela sentado no caixa da cantina ouvindo esporte pelo rádio de pilha. Desisti do doce.
   Passaram mais muitos dias e nada dela, a escola tinha perdido algo de felicidade para mim, até que no final do ano eu a vi chegando e carregando algumas  sacolas e embalagens.  Estava carequinha, inchada e com o passo mais curto. Logo abriu um sorriso quando me viu, eu sorri também e corri para o banheiro chorar. Aquela Cruz ela não merecia, aquela não! 
   O câncer de mama a pegou sorrateiramente e quando descobriu já era metástase,  a coluna doía demais e a respiração era ofegante. Mas era preciso pagar o aluguel do ponto. Era preciso muito mais para carregar a Cruz.
   Ela se foi... e o molenga do marido continuou com o rádio de pilhas rindo e chorando pelo futebol por anos. Cada um tem a sua cruz...
   Penso na minha, nunca a aceitei, uma impostora, sádica e debochada... Penso quando ela trará meus tumores, com certeza estará rindo de mim! Ela sempre vence, eu que chore pelo resto da vida em posição fetal!
   Quero estar pronta. Quero lembrar dos afetos que recebi de estranhos, do jeito que a Tia Cleusa me chamava de fofura, biju, marianinha, menina de ouro, florzinha, formiguinha, meu amor... Não pensarei em dor alguma, só nos afetos gratuitos todos.
   O afeto previne o suicídio, o câncer,  a gripe e a fadiga do coração.  O afeto é quentinho e amarelo como o sol em uma manhã de inverno. 
   O afeto é um brigadeiro num dia ruim da infância. 



















Mariana de Almeida.  

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