sexta-feira, 17 de maio de 2019

Mulher.

Não se nasce mulher, eu sei
Tornamo-nos mulheres
À medida que crescemos
E aprendemos a andar pelo mundo
E já desde bem pequena aprendemos
A ocultar nossa beleza, a fechar nossa perna
A medir nossas palavras, a baixar nossa voz
A olhar para trás, a não responder ou zombar
A pensar primeiro nos outros, a recuar
A não encarar nos olhos de alguns homens,
A mudar de calçada, a baixar mais a saia,
A desviar da esquina, a relevar assobios
A não repetir o prato, a lavar toda a louça
A estudar mais, a tolerar mais, a perdoar mais
Sobremesa, nem pensar! Não podemos engordar
Discutir, nem pensar! Não podemos incomodar
Viajar sozinha, não! Não podemos nos arriscar
Trocar o pneu do carro, não! Não temos aptidão
Amar outra mulher, não! Não podemos ser sapatão
Amar várias pessoas, não! Não podemos ser vadias
Ganhar mais que o marido, não! Não podemos aceitar isso
Ser solteira para o resto da vida, não! Não podemos ficar sozinhas
Detestar crianças, não, o que é isso? Todas devemos ter filhos
Falar de política no trabalho, não! Não podemos correr riscos
Ser mulher é usar toda a inteligência emocional para driblar a sorte
Tudo o que nos move instintivamente é o nosso desejo ancestral
De permanecermos vivas; completamente vivas e lúcidas
Nós já apanhamos muito, já nos negaram todo o tipo de sorte
Já fomos queimadas vivas em fogueiras, já fomos abandonadas
Já fomos estupradas, assassinadas, violadas e roubadas
Não se nasce mulher, eu sei
Não se nasce mulher, eu sei...

Ser mulher e não se comportar como mulherzinha, não!
Como ousa negar toda tua doutrinação de mulher?
Como deseja ser respeitada por toda sociedade, então?
Como renega o teu mais sublime privilégio de ser mulher?
Mulher, tu és o esteio dos lares, da famílias e do patriarcado
Tu és nossa joia mais preciosa, nossa papoula do deserto
Nosso lírio da paz, nossa carne mais quente para nos abrigar
O que mais poderia desejar, Mulher?
Mulher, redime-se enquanto há tempo
Não manche teu nome com ingratidão!
Recolha-se e peça perdão por tua tentação
De rejeitar ser uma maldita Mulher!


(Mariana de Almeida).












terça-feira, 14 de maio de 2019

Mãe:

Não me esqueço,
Daquelas palavras, não me esqueço
A palavra certa na hora incerta
Pode previnir desatres, apagar faíscas
Dar abrigo ante ao abandono noturno;
Não me esqueço,
Daquele aceno, aquele sorriso
Ao meio dia no meio da rua
Entre os carros na avenida que incitam
Um passo à frente e a vida ficaria para sempre;
Não me esqueço;
De todos os vazios escuros, céu opaco
Nós sozinhas, era noite, era dia
Um uivo irrompia nossa casa, nossa vida
E nós sozinhas diante do abandono, do medo
Não eu não me esqueço;
De quanto preciso esquecer todo aquele tempo
Toda aquela mágoa corrosiva que enferruja a vida
Toda aquela mancha em nossa história bordada no pano de prato
Todo aquele grito contido, abafado....assassinado.
Mãe, eu não queria ter dividido contigo
Aqueles piores dias
Onde a nossas únicas promessas
Eram tragédias.
Mãe, contigo eu só queria a palavra sol.


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segunda-feira, 13 de maio de 2019

A poesia.

Entre a realidade e a loucura
Invento com letras miúdas
Palavras que gritam
Meu silêncio absurdo;

Não, não é covardia
Nem é desprezo pelo abismo
Que insisto em pousar meu olhar
Deve ser, no fundo, só vaidade;

Antes do voo, o desejo de asas
Antes do grito, a palavra escrita
Antes do abismo, uma saída
Antes da pele, a poesia que habito.

O amor.

O amor
Foi tudo que ficou
Daquela promessa quente que fizemos;
O amor
Foi tudo o que ficou
Daquele café que dividimos pela manhã, depois do último gozo;
O amor
Foi um pensamento vago o qual dissipei junto à fumaça do cigarro
Silêncio que disse tudo, palavras estragariam o nosso último amor;
O amor é a saudade que trago no peito
Do amor que não tivemos
Do amor que não prenhamos
Embora, loucos, semeamos
A terra molhada, fértil e fonte de mel
Pari memórias do amor.



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