quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Sobre os nossos dias.


   O mundo só me parece um pouco habitável enquanto estou apaixonada, seja por alguém, por algum movimento ou alguma ideia que me recarrega de energia para querer acordar e sair da cama. Sim, a paixão! Somente ela me move. O amor é traiçoeiro, chega de mansinho, vai se instalando, vai descobrindo roteiros, abrindo caminhos e invade sua casa, sua cama e sua alma. O amor me encantou, me seduziu o coração, mas me brochou profundamente quando menos estava preparada. Foram golpes sutis de humanidades que dilaceram minha alma e paralisaram minha face.

   Ah como eu gostaria de não sentir, somente ser e viver. Cada dia e cada palavra como se fossem eternas e sem que as maiores profundidades me atingissem. Não me matariam os preconceitos, as indiferenças, as pequenezas, as maldades, os deboches, os escárnios e nem a putaria sórdida. 

   O amor me fudeu justo na cabeça, me deprimiu, me reduziu ao pó estático que adormece sob os móveis. O amor me deu esperanças, me deu fome, me deu um filho, me deu saudade... Também o amor me deu ingratidão, me deu pavor, me deu tristeza e uma eterna solidão. 
   O amor tentou me matar, eu rebelde, sobrevivi às penas de qualquer outra coisa. Eu saquei a malandragem do amor quando ele mede o quanto podemos suportar por ele e eu não posso suportar mais nada, por isso sobrevivo à paixão e enquanto durar seus instantes, sobrevivo ao instinto e depois disso é a morte, é poder e controle, é logística e automação.
   Não se ama mais como Ono e Lennon, não se fundem mais em um onde existem dois ou mais.
   Quando assassinaram Lennon a sangue frio na entrada do Edifício Dakota, em New York, assassinaram um pouco da gente também.
   E continuam assassinando o amor, a liberdade, a verdade e o que poderia ser paz.
   A Guerra ainda é um baita negócio que brinca com muitas vidas, move bilhões e mata mais que amor, dizem por aí.


(Mariana de Almeida)

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